Por Vanderlei Garcia Junior.
A moderna dança das negociações é composta por um intrincado balé de palavras, cláusulas e termos. No centro desse palco está o contrato, o protagonista que assume a responsabilidade de conectar, proteger e guiar as partes envolvidas. Mas, o que acontece quando esse protagonista falha em seu papel principal?
Nos corredores de prestigiosos escritórios de advocacia, onde o ar é frequentemente carregado com a pressão de fechar negócios, uma nova tendência vem surgindo: contratos que, tecnicamente, não “contratam”. Estes são documentos robustos, repletos de jargões e cláusulas meticulosamente redigidas, que, contudo, não parecem refletir as verdadeiras intenções ou a natureza da relação entre as partes.
Conversei com Marina Souza, uma advogada conceituada, com mais de uma década de experiência em contratos empresariais. “Estamos vendo uma crescente desconexão entre o que está escrito e o que realmente é buscado”, disse ela, folheando um contrato recém-redigido.
“A questão não é o que está sendo dito, mas o que está sendo omitido. Há uma falta de humanidade, uma ausência do toque pessoal que realmente define a natureza de um acordo.”
Ela não está sozinha nessa observação. José Almeida, um experiente negociador, lamentou a frequência com que os contratos são tratados como meros formalismos. “Há uma arte na criação de acordos que beneficie ambas as partes. Quando essa arte é esquecida, o contrato se torna apenas um pedaço de papel sem alma”, comentou.
O problema, segundo especialistas, é duplo.
Primeiro, a crescente complexidade do mundo dos negócios e a pressão para proteger os interesses a qualquer custo levaram a uma abordagem excessivamente cautelosa e impessoal da redação de contratos. Segundo, a essência da negociação – o entendimento mútuo – é frequentemente esquecida em favor de uma abordagem unidimensional focada apenas em ganhos imediatos.
Mas há esperança no horizonte. Muitos profissionais estão agora advogando por uma abordagem mais equilibrada e centrada no ser humano, onde a confiança é tão valorizada quanto a proteção.
A verdade é que, em um mundo cada vez mais interconectado, a necessidade de contratos que verdadeiramente “contratem” nunca foi tão grande e necessária. E enquanto a jornada para redefinir a narrativa contratual está apenas começando, o movimento em direção a acordos mais autênticos e significativos é um sinal promissor para o futuro dos negócios.
Para aqueles que estão no meio da dança das negociações, o desafio é claro: trazer de volta a humanidade e a sinceridade aos contratos, garantindo que eles não apenas protejam, mas também conectem, inspirem e reflitam as verdadeiras intenções de ambas as partes. Porque, no final das contas, um contrato deve ser mais do que apenas palavras no papel; deve ser um espelho da realidade que ambas as partes desejam criar juntas